Há vários meses vinha se falando sobre a adaptação peruana de "Colorina", que seria realizada pela Del Barrio Produciones em parceria com a América Televisión. A notícia gerou muita curiosidade, pois não estamos falando de uma novela qualquer, mas de uma história que causou polêmica nos anos 80 na América Latina e sempre lembrada como um clássico.
Confesso que a minha curiosidade também era grande. Na época em que a "Colorina" mexicana foi exibida, eu não era nascido, mas graças à tecnologia de hoje, pude desfrutar desta novela ao acompanhar alguns capítulos pela internet. A versão mexicana de 2002, intitulada "Salomé", me agradou bastante e lembro com carinho desta novela.
Voltando ao Peru, chegou o dia 26 de Setembro e a tão aguardada estreia. Fiquei surpreso com o início da história, bastante modificado, mas não menos interessante. No passado, mais precisamente na década de 90, a jovem Fernanda (Magdyel Ugaz) vive na Amazônia Peruana e está prestes a se casar com Aquiles (Christian Domínguez). Em sua casa, Fernanda está aflita por sua mãe Cecilia (Norka Ramírez), que padece de um câncer em estágio terminal. Sem dinheiro para bancar uma cirurgia, Pelagio (Pold Gastello), o padrasto de Fernanda, convence a jovem a passar a noite com Junípero Barboza (Carlos Victoria), um traficante de ouro recém-chegado à região. Fernanda aceita a proposta, mas se arrepende e acaba sendo estuprada pelo bandido em um hotel. Fernanda foge do quarto e no corredor conhece Luis Carlos Villamore (David Villanueva), que passava a lua de mel com sua esposa Diana (Alessandra Denegri), que sofre de esclerose múltipla. Luca fica dividido entre o pedido desesperado de Fernanda e os gritos de dor de sua esposa. Obviamente, ele acabou socorrendo sua esposa.
Fugindo de Junípero Barboza (Carlos Victoria), Fernanda (Magdyel Ugaz) conhece
Luca (David Villanueva) no corredor de um hotel.
Reprodução: América Televisión
Depois de ter passado por essa humilhação para conseguir o dinheiro, Fernanda descobre que tudo não passou de um plano de seu padrasto para conseguir um dinheiro fácil, pois nada poderia ser feito por sua mãe, que já estava desenganada. Como resultado, Fernanda perde a mãe, perde o futuro marido e fica mal falada pela região.
Sem saída, Fernanda fica presa por um breve período na propriedade de Barboza. Com a morte do traficante, Fernanda escapa e se muda para Lima. Em uma noite, ela conhece Muñeca Montiel (Andrea Montiel), uma prostituta que se compadece com sua situação e a leva ao Salón Kitty. A partir daí, Fernanda começa uma nova vida como Colorina.
Todo este "início" não existia na sinopse original e faz parte das modificações realizadas pelos escritores Eduardo Adrianzén, Víctor Falkón e seus colaboradores. Em se tratando de adaptações de novelas já realizadas, parte do público costuma torcer o nariz quando a história não segue o seu curso normal. Particularmente, eu prefiro dar o benefício da dúvida ao adaptador e deixar que sua "nova" história me surpreenda. Se quisesse ver tudo igual a antes, eu iria assistir a versão de 1980 ou a original chilena, de 1977. As mudanças foram bem oportunas e deram um excelente ritmo aos primeiros capítulos.
Dois anos depois, Fernanda (Magdyel Ugaz) e Luca (David Villanueva) voltam a se encontrar.
Reprodução: América Televisión
Depois deste começo bem executado, a trama se aproxima mais do roteiro original, quando dois anos se passam e Fernanda, agora como Colorina, volta a cruzar a vida de Luca. O reencontro ocorre durante a festa de aniversário do milionário Ramiro Villamore (Nicolás Fantinato), dono da rede de supermercados Villamore e pai de Luca. Na sequência, Colorina e Luca se deixam envolver pelo desejo e de um encontro amoroso, ela fica grávida. Muita coisa já aconteceu nestes primeiros capítulos, mas Colorina ainda vai sofrer muito.
Colorina em seu número musical no Salón Kitty
Divulgação: Del Barrio Producciones / América Televisión
A produção está muito bem cuidada, com bons cenários e figurinos. Nada extraordinariamente sofisticado, mas correto. Destaque para a ambientação do Salón Kitty, onde se passa boa parte da história e os números musicais de Colorina. Gosto da edição e principalmente da musicalização da novela, que está sempre presente e complementa as ações e reações dos personagens. Os ganchos para os próximos capítulos estão sendo bem aproveitados. Um ponto negativo é a falta de uma abertura, algo não usual nas novelas peruanas atuais. A abertura é a embalagem de um produto audiovisual e considero fundamental em qualquer produção, principalmente se for realizado para a TV. A tipografia do logo da novela e dos créditos, as cores e texturas escolhidas para as chamadas dariam um belíssimo material, além de promover ainda mais o excelente tema musical da história, interpretado por Marcos Llunas.
Com relação às atuações, todas me agradam bastante, mas os destaques, sem dúvidas, vão para as atrizes. Depois de muitas críticas sobre a escolha de Magdyel para o papel, ela vem crescendo a cada capítulo e mostrando que é adequada à personagem, com sua beleza, sensualidade e acima de tudo, sabendo atuar. Outra que também está brilhando é Alessandra Denegri, na pele da sofrida Diana. A relação de sua personagem com o protagonista Luca é muito bonita. Em poucos capítulos a atriz já deixou sua marca. Há também a centrada e elegante Yovanka (Vanessa Saba), dona do Salón Kitty e protetora de suas garotas. Também não podemos esquecer da odiosa Matilde de Villamore, muito bem interpretada por Natalia Torres, a mãe calculista que está obcecada para que Luca tenha logo um filho homem para herdar toda a fortuna da família. Enfim, uma jararaca para se odiar até o último capítulo.
"Colorina" pode não ser uma superprodução arrasadora, mas é uma novela bem realizada, que emociona, encanta e te envolve a cada capítulo. Minha última experiência com novelas do Peru foi em 2010 com "Los Exitosos Gomes", produção da Frecuencia Latina, emissora concorrente da América Televisión. Comparando as duas produções, é possível notar um crescimento na produção de novelas por lá.
Minha análise para "Colorina" termina com um saldo bem positivo e, como telespectador, espero muitas emoções nos próximos capítulos. Todas as noites, não vou dormir sem ela.
Créditos: Del Barrio Producciones / América Televisión